segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SERMÃO: CRIAÇÃO, QUEDA E REDENÇÃO

Como não tivemos estudo essa semana em virtude do nosso primeiro culto do Ponto de Pregação do Alto Branco, hoje estaremos disponibilizando o sermão escrito, pregado no último Sábado. Dessa forma, quem quiser estudar com mais tempo o assunto e não pôde participar de todas os encontros, terá mais essa oportunidade...Que Deus conceda a todos uma leitura abençoada!!!


Sermão: Gênesis 1,2,3 – Criação, Queda e Redenção

Introdução

               O conceito de criação, queda e redenção é algo extremamente comum em nossas vidas, por ser esse o sistema em que toda a nossa história se desenvolveu. Ao nosso redor vemos diariamente este conceito sendo aplicado. Um bom exemplo disso é quando assistimos a um filme, seja qual for o tipo (ação, comédia, ficção, drama) todo o enredo (história, trama) é desenvolvido começando de um período estável dos personagens em que por algum motivo fora quebrado, sendo esse o ponto de tensão onde a história precisa ser refeita, haja vista a transformação sofrida. Daí em diante, há a esperança e a busca por um Redentor, alguém ou alguma coisa que irá trazer de volta a condição estável, ou talvez, melhor que a do início do citado filme.
Essa ilustração (filme) nos auxiliará bastante na compreensão de toda a história da Criação, Queda e Redenção.
 
Elucidação:

               O livro de Gênesis, ou das origens, escrito por volta do século XV A.C. tem Moisés como autor, sendo essa tese amplamente defendida entre grande parte dos teólogos conservadores. Na verdade, esse livro compõe a primeira obra do pentateuco, cinco primeiros livros de mesma autoria. Gênesis é composto  por duas grandes partes, do capitulo 1 ao 11 e do 12 ao 50. A primeira parte corresponde a narrativa da criação e dos chamados primeiros pais, como Adão, Noé, Abraão, Iraque e Jacó. No capitulo 1 temos logo de cara a apresentação inicial de quem é o Deus que será revelado ao longo de toda a Escritura. O Deus da Bíblia é eterno, desde o principio de todas as coisas ele já existia sem necessidade de que algo o sustentasse. É pessoal, pela sua livre vontade resolve criar todas as coisas do nada, ex nihilo (sem matéria pré-existente), mostrando ser onipotente, pois cria tudo o que deseja com o poder da sua própria palavra.
 
               A primeira grande obra do Senhor é a criação de todo o universo, do que vemos e também daquilo que nunca vimos e jamais veremos (v.1). Essa criação inicial, porém, não estava pronta para a finalidade decretada por Deus, ela era sem forma e vazia (v. 2). Por isso, o Senhor começa a dar ordem a toda criação para que ela esteja apta a receber a coroa do ato criativo divino. Nos seis dias que se segue, os quais, seguindo a maioria dos autores conservadores, não devemos ter duvidas que são dias literais (tarde e manhã), Deus põe em ordem tudo o que criou com o fim de tornar sua obra habitável, e a cada passo que dá nesse intuito, interpreta-o como sendo bom.
               O processo de ordenação da criação em seis dias segue um parâmetro bem definido. Deus faz paralelos entre os dias em que ele dá forma a todas as coisas e no segundo plano do paralelo ele traz a existência o conteúdo de cada ato criativo, vejamos:

Dia 1 – Luz e Trevas / Dia 4 – Luzeiros do Dia e da Noite
Dia 2 – Mar e Céus / Dia 5 – Criaturas das Águas e dos Ares
Dia 3 – Terra Fértil / Dia 6 – Criaturas da Terra
 
              
O Conceito de “bom” na interpretação dos passos de Deus na organização da criação traz o entendimento que tudo o que procede de Deus é bom, como diz Tiago (Tg. 1:17), é perfeito e ele mesmo se agrada do que faz. Além disso, o Senhor está mostrando que aquele passo que acabou de ser dado está levando sua criação ao objetivo final. No sexto dia Deus cria o homem e mulher, a coroa de toda criação, e os faz imagem e semelhança (v, 26). Essa expressão denota que apenas a raça humana recebeu de Deus alguns dos seus atributos comunicáveis, os quais lhes permitem exercer plena vontade, alegria, tristeza, senso de justiça, amor, dentre outros.

               Ao homem foram dados três mandados básicos que seriam plenamente possíveis de serem seguidos: Mandato Social (crescer e multiplicar) Mandato Cultural (dominar e sujeitar) e por fim o Mandato Espiritual (viver em harmonia com o senhor, não comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal). No capitulo dois, a criação do homem é retomada em detalhes quando é revelada a criação da mulher a partir do homem. Ela foi preparada pelo Senhor para ser a auxiliadora idônea que ajudaria o seu marido na tarefa de sujeitar a criação (1:28), sendo ela mesma a progenitora e aquela que dedicaria sua vida para que os filhos crescessem em ambiente adequado.
 
               O homem deu nome a todos os animais e a sua própria mulher sendo ele o subgerente de Deus, responsável imediato por guardar e sujeitar toda a criação. Voltando ao capitulo 1, temos que ao sétimo dia o Senhor cessou seu ato criativo e descansou. Esse dia mostra que o Senhor concluiu perfeitamente seu propósito e que a partir dali não voltaria mais a criar, mas governar toda a criação do seu trono onde está assentado. Deus separa o sétimo dia e o santifica para que os homens também assim o fizessem, portanto, esse dia, desde a criação, fora instituído o dia do descanso, onde mais tarde no quarto mandamento (Ex. 20:8) foi retomado para que o homem se lembrasse como estatuto perpétuo. O judeu trabalharia seis dias aguardando o descanso final prometido pelo Senhor, o qual foi confirmado quando Jesus morre e ressuscita ao terceiro dia. Daí em diante os apóstolos passam a guardar não mais o ultimo dia da semana, mas o primeiro, ou sábado cristão, que não aponta mais para aquele que viria, mas começando a semana com a certeza do descanso final o crente guarda o Domingo e entra nos próximos seis dias com a certeza da terra prometida, a Jerusalém celestial que já é nossa realidade.
 
               O homem está em plena harmonia com a criação e com sua adjutora. Esta, chamada varoa, é osso dos seus ossos e digna de toda confiança. Os dois vivem nus e não se incomodam com isso porque não tinham maldade no coração. Tudo lhe era plenamente normal, pois o homem e a mulher viviam em estado de perfeição espiritual.

Aplicação: Quando o homem no século XXI observa as catástrofes, os tsunamis, as enchentes e todos os tipos de tragédias tende a questionar sobre o porquê de tudo isso acontecer? A resposta do incrédulo é sempre sentenciando Deus como culpado. O pensamento é simples, sendo ele bom, santo, criador e sustentador de todas as coisas, como deixa que tudo isso aconteça? Entretanto, como nos ensina o profeta Jeremias em suas Lamentações (Lm. 3:39) se o homem quer se queixar de algo, que se queixe cada um de seus próprios pecados.
Tudo de mal que acontece no mundo não pode de maneira alguma ser colocado como responsabilidade de Deus.
Apesar de ser Ele soberano sobre toda criação, o Senhor dotou o homem de responsabilidades e estas geram consequências.
Como acabamos de ver, a criação de Deus foi perfeita, tudo fora criado para que vivêssemos em plena comunhão com o que nos rodeia. Se algo hoje está errado em nosso ambiente, Deus não pode ser jamais penalizado nesse sentido, ele criou todas as coisas perfeitamente, portanto, importa que agradeçamos por tudo que fez perfeitamente.

               Voltando a história de Gênesis com Adão e Eva, até o final do capítulo 2 a condição era exatamente de perfeição. Adão trabalharia no jardim e colheria os frutos necessários para seu sustento sem grandes dificuldades (esse é o conceito de trabalho produzido por Deus). Eva seria sua auxiliadora e juntamente com Adão educaria seus filhos e viveria em contato com toda criação sem perceber maldade em seu coração. Eles viveram uma união de pessoas tão profunda que formaram uma só carne, uma fusão interpessoal perfeita criada pelo Senhor (o casamento). O último verso do capítulo diz justamente isso, eles estavam nus, mas não sentiam vergonha.

Aplicação: A condição inicial dos nossos primeiros pais não permitia que vissem maldade na nudez. Hoje quando grupos ditos “naturalistas” tentam reviver essa época do Éden formando lugares onde a nudez é permitida, estão em seu íntimo trazer a forma inocente do homem quando isso não será mais possível, pois o homem é sujo e assim sendo tem todos os seus pensamentos e ações corrompidos pelo pecado. A nudez após a queda é perversão do homem, pois a partir daquele momento não há mais pureza na raça humana.
               O contraste do final do capítulo 2 e início do capítulo 3 é marcante quando o homem e mulher em estado de pureza são contrastados com um novo personagem que é apresentado como uma serpente sagaz. A sagacidade em si não seria o problema. Alguém sagaz é alguém esperto, rápido nas ações, na verdade essa é uma qualidade da serpente. O grande problema está nas suas palavras, aliás, o grande problema é a conversa que ela manterá com a mulher.

    1)    Ouvindo o Conselho do Ímpio (v.1-7)

               Fazendo um paralelo com o Salmo 1, podemos perceber como é contundente a afirmação do salmista quando diz que um homem bem aventurado (feliz) é aquele que não interrompe sua vida para ouvir o conselho dos ímpios.
Aplicação: A prática da conversa é algo extremamente saudável em nossas vidas, todavia, como disse o apóstolo Paulo “as más conversações corrompem os bons costumes” (I Co. 15:33). Não haverá proveito algum se gastarmos tempo com pessoas que estamos cientes que não tem assuntos que edifiquem, portanto, dessas pessoas devemos manter distância, pois o conselho do ímpio redunda na acomodação com suas práticas e quando menos percebermos, estaremos agindo e andando da mesma forma que eles (não ouve o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores e nem se assenta na roda dos escarnecedores).
               Pois bem, Eva aceitou responder a serpente, e vejamos que seu questionamento (da serpente) era algo extremamente contrário a Palavra que Deus havia lhe dito, não haveria nem mesmo necessidade de contra argumentar. Aqui nos verso de 1 a 3 temos a primeira distorção e o primeiro grande erro hermenêutico (interpretativo) da Escritura. O Senhor havia dito nos versos 16 e 17 do capítulo anterior que Adão e Eva não poderiam comer do fruto, Eva, porém, acrescentou que este limite era ainda maior. Não só comer, mas tocar naquele fruto seria uma atitude pecaminosa. É bom salientarmos que o fruto em si não continha pecado ou algo em sua substância que contaminasse o homem. O pecado estava em não obedecer o limite de Deus. O Senhor tem em si mesmo autoridade em determinar o que é pecado, ele havia dito que comer do fruto seria o limite do homem, e a transgressão desse limite (lei) seria considerado rebeldia contra o Todo Poderoso. Eva vai além da Palavra de Deus e coloca um novo limite, algo muito parecido com que os homens versados na lei (fariseus) viriam fazer muitos anos depois.

Aplicação: Julgar o pecado é algo inerente a quem tem autoridade sobre o mesmo. Portanto, a definição sobre qual o limite do homem deve advir da pessoa absolutamente superior ao homem, e esse não é outro senão Deus. Os limites que para nós muitas vezes poderiam aparentemente ser ultrapassados sem grandes problemas, nem sempre são interpretados por Deus da mesma forma. O pecado é a transgressão da lei e apenas o justo juiz é capaz de formular uma justa e perfeita lei. O que para muitos poderia parecer ridículo, o não comer de um fruto, aos olhos do Senhor foi um limite aparentemente simples que foi corrompido pelo homem. Portanto, devemos estar sempre atentos para não sermos enganados pelo nosso corrupto coração (Jr. 17:9). Precisamos estar lastreados pela vontade revelada de Deus em Sua Santa Palavra. Acrescentar, mesmo que de forma sutil, algo a Palavra de Deus é seguir o caminho de Eva que leva a religiosidade cega baseada em más interpretações. Suprimir qualquer parte daquilo que o Senhor nos ordenou fazer é o mesmo que seguir a hermenêutica de Satanás e viver uma falsa fé que leva seus seguidores a uma vida desregrada. Precisamos nos manter fielmente de acordo com o que Deus falou e nos ordenou isso nos levará a um caminho seguro que o agrada e nos garante a comunhão com o Senhor.
               Continuando a analisar os próximos versos vemos que nessa conversa maligna entre a mulher e a serpente onde os erros começaram a partir da má interpretação da Palavra de Deus, devemos ser cautelosos antes de colocarmos toda a culpa na mulher. Deus havia deixado toda a responsabilidade de gerir a criação, e a mulher fazia parte dela, sob a tutela masculina. Portanto, Adão tinha total responsabilidade sobre sua esposa. No texto traduzido pode-se ter a falsa ideia de que a mulher estava sozinha, mas isso não corresponde a verdade. No original hebraico vemos que há no texto a conjunção “com” registrada no momento em que a mulher come do fruto, ou seja, ela comeu com ele, ou, comeram juntos.
Aplicação: A responsabilidade cabe a quem recebeu ordens diretas. A mulher estava quebrando a ordem da criação quando tomou o lugar de liderança da casa e iniciou a conversa com a serpente. O homem, por sua vez, via toda aquela cena e permaneceu inerte, demonstrando sua incapacidade de gerir corretamente seu lar. Não é possível analisar uma cena como essa e não aprender como é perniciosa uma estrutura onde a hierarquia é desrespeitada. O sistema perfeito criado por Deus foi subvertido pelo homem que se calou. O livro de Apocalipse fala que os tímidos não herdaram o reino de Deus. As pessoas covardes jamais terão um fim proveitoso. Adão mostrou sua covardia e recebeu o produto da sua falta de coragem, uma mulher amoldada ao conselho de Satanás. Dessa forma, se faz extremamente necessário que os homens estejam alertas para o que acontece em sua volta, que prestem atenção em suas mulheres e também em seus filhos. Que exerçam a liderança, não como tiranos, todavia, como verdadeiros guardiões da Palavra de Deus, resultando em uma família abençoada e regida pela Palavra. Além disso, que não estejamos criando novos limites além dos que já foram postos pelo Senhor, como fez Eva, nem muito menos subtraindo a Palavra de Deus como a serpente.
               O verso 4 é desafiador. Aqui está expressa a grande ânsia de Satanás, o ser igual a Deus. No capítulo anterior nos versos 16 e 17, o Senhor dissera que não comessem do fruto, pois certamente morreriam. A serpente diz que isso jamais aconteceria utilizando de palavras semelhantes como se estivesse no mesmo patamar do Criador. A mulher estava diante de duas sugestões: 1) Deus disse: Não coma, pois certamente morrerás; 2) A serpente: Coma, certamente não morrerás. O argumento utilizado para convencer a mulher a comer do fruto foi simples – Deus não é tão bom assim como diz que é. Se ele fosse deixaria vocês comerem. Ele tem receio que vocês sejam iguais a Ele. Mas a grande pergunta é: Por que Deus estaria preocupado com o homem? O Senhor de toda a criação teria algum tipo de temor das suas pobres criaturas? A ilustração de Van Til no livro Apologética Cristã é muito pertinente nesse caso quando diz que nós somos como uma criança que bate no rosto do Pai quando questionamos a Deus. A criança só consegue bater porque o pai permite que ela esteja perto do seu rosto. Esse seria um argumento extremamente furado para alguém que estivesse ciente de quem realmente é o Senhor. Quanto ao conhecer bem e mal, Deus jamais disse que iria furtar o homem disso. Como bom pai ele ensinaria seus filhos sobre a existência dos dois lados, todavia, sem jamais precisar fazê-los tocar no pecado.
               O verso 6 de que a mulher viu que o fruto era: Agradável, vistoso, bom para dar entendimento. Mas haveria defeito nos demais frutos? Com que deficiência Eva lidava para que tivesse realmente necessidade de cobiçar tal fruto? O Senhor tinha feito todas as coisas perfeitas, fruto nenhum seria tão mais admirável que os demais, mas a cobiça nos faz enxergar aquilo que queremos e não o que realmente precisamos. Eles tomam do fruto, a mulher passa ao seu marido e eles comem juntos. O resultado não foi dos melhores. A promessa de conhecer bem e mal dito pela serpente realmente se concretizara, mas isso seria bom? A reação deles mostra justamente o contrário. O estado de nudez deixou de ser algo natural e passou a ser vergonhoso. A maldade adentrou aos seus corações. A coroa da criação havia se rebelado contra o próprio Criador em um ato de impiedade que nos constrange até hoje. O que fazer diante da vergonha de pecar contra um Deus santo que só lhe fez o bem?
            No verso 8 os estúpidos tentam resolver ridiculamente o seu problema com folhas de figueira. Nada mais patético. Como esconder a miséria da alma com pequenas folhas de árvore? Como tentar usar a criação para furtar da vista do Deus todo poderoso a iniquidade que brotava de seus corações? O homem embrutecido pelo pecado busca inutilmente resolver o seu maior problema, a natureza que se tornara pecaminosa, quebrara a primeira tábua da lei (Ex. 20:1-17) e imediatamente recebera a primeira das mortes, a espiritual como o Senhor prometera. Mesmo ainda não havendo sido escrita na pedra, a lei de Deus já estava promulgada nos corações do homem (Rm. 1:20), bem como na sua revelação do capítulo 2. Adão de forma consciente manifestou sua idolatria ao erigir um novo deus para si mesmo, o seu ego, adorou essa nova imagem, desonrou o nome do Deus da Aliança, e desvirtuou a esperança do descanso prometido aos que esperassem no Senhor. A infidelidade a Palavra de Deus, a morte decorrente da queda, a cobiça pelo conhecimento, a desonra e a tentativa de roubo da autoridade, o falso testemunho diante do pecado revelado, mostram que não apenas a primeira, como também a segunda tábua mosaica fora quebrada. O homem de uma só vez provocou a ira de Deus quebrando os dez mandamentos e atraindo para si a morte. Daí em diante ele jamais poderia se inclinar para Deus. A capacidade de escolher entre amar a Deus ou não, fora perdida. Pelo pecado de Adão (e não o de Eva) a raça humana inteira caiu em estado de morte espiritual (Rm 5).


     2)    O grande julgamento (v. 9-21)

O início dos depoimentos:
1º Réu - Adão

               Retomando a estrutura inicial da criação, o Senhor Deus primeiramente chama Adão para uma conversa. A pergunta aparentemente sem necessidade traduz o começo do grande tribunal santo se estabelecendo. Deus sabia de tudo que ocorrera, ele presenciara cada ação de suas criaturas, mas agora questiona onde eles estavam. O Senhor queria confrontar a natureza rebelde do homem. Por que ele não se apresentara como de costume na viração do dia? Deus queria ouvir da boca de Adão suas respostas. O verso 10 declara a situação do homem pecador diante de um Deus Santo. Não há nada pelo que se alegrar. Não tem porque querer ver a face de um Deus totalmente santo sendo pecador. Diante da Santidade do Altíssimo Adão seria consumido, a sua vergonha não era maior que seu temor e por isso ele se esconde.
Aplicação: Quando vemos pessoas não regeneradas saindo das igrejas semana após semana contentes com sua situação espiritual por receberem uma palavra de gozo ao seu coração, deveríamos nos encher de repúdio. O pecador deveria estar sendo confrontado. Os crentes precisariam ser edificados e reanimados a se santificarem mais, e os incrédulos saírem horrorizados com sua situação e com o iminente inferno que os aguarda, ou então saírem restaurados, mas jamais acomodados com a maneira que vivem. A pregação fiel, há muito esquecida, precisa ser posta novamente em nossos púlpitos.
               O Senhor segue questionando no verso 11 sobre como Adão havia chegado àquela conclusão. Deus era o responsável por ensina-lo e isto não havia feito parte de seus ensinamentos, portanto, quem o ensinara que estar nu seria ruim? Quem seria seu novo superior? O homem havia buscado um novo ser supremo sobre sua vida. A resposta de Adão é típica de alguém que não se arrependera verdadeiramente. Ele transfere a culpa para a mulher, e indiretamente para o próprio Deus. Nas entrelinhas do verso 12 está revelado o conhecimento errôneo do ser divino que Adão tinha. Passava pela cabeça do primeiro homem que haveria possibilidade de escapar de suas mãos. Além disso, Adão duvidou da santidade e sabedoria de Deus quando tentou colocar sobre sua responsabilidade a atitude da mulher. Ele sabia que caso tivesse mantido a ordem conforme fora lhe dada, jamais a mulher seria enganada. Porém, pela sua negligencia sua esposa tomou a frente de sua casa e passou a dirigir os seus passos. O Senhor que fizera uma auxiliadora idônea (2:18) de maneira alguma tinha participação em tal erro. Todavia, Adão em sua alucinada tentativa de escape culpa a sua esposa e ao próprio Deus pelo erro que era essencialmente seu (3:12).

2º Réu – A Mulher

               A cena logo em seguida, agora no verso 13, é dada continuidade com o diálogo com a mulher. Seguindo a mesma linha de defesa do seu marido, e demonstrando com isso sua natureza maligna que agora atuava tanto no homem como na mulher, a esposa de Adão responde ao questionamento do Senhor repassando a sua responsabilidade para a serpente. Ora, a serpente não a obrigou a absolutamente nada. Assim como em toda a Escritura, Satanás é o tentador, mas nunca o responsável direto pelos pecados do homem. Em momento algum Deus manifesta que a culpa pelo erro é do Acusador, mas sim do ser humano que ouve a voz da serpente ao invés de obedecer ao Criador (Sl. 1:1,2). A mulher com essas palavras tenta se safar da mão do Deus Todo-Poderoso, e assim como seu marido evidencia sua maneira equivocada de conhecimento quando duvida não apenas da sabedoria de Deus como de um dos seus atributos incomunicáveis, a sua onisciência.

3º Réu – A Serpente

               Para serpente não há nenhum tipo de conversa. Não há defesa, argumentos ou discussões. Por que será? A serpente não teria esperança de salvação, pra ela restava apenas o juízo e por isso mesmo o Senhor não perderia tempo em ouvi-la. O privilégio de obter a misericórdia do justo juiz é exclusivo dos homens (Hb. 2:16)


As Setenças

1ª – Serpente - A maldição dada a serpente foi rastejar, ser um animal de hábitos desprezíveis. O modo da sua alimentação “do pó” demonstra o caráter repulsivo da vida que levaria dali em diante. Dentre todos os animais domésticos e selváticos a serpente fora considerada maldita. Em seguida, no verso 15, há uma promessa deixada ainda a serpente. Haverá uma inimizade entre o descendente da mulher e toda a descendência do animal rastejante. Aqui é revelado o chamado proto-evangelho. Nasceria um filho e este filho iria ferir mortalmente a descendência da serpente que por vezes o ferira. A partir desse momento da história há o início de uma bifurcação de descendências. Uma linhagem eleita da qual nasceria o Messias prometido, e uma linhagem réproba a qual tentaria impedir o nascimento e consumação da obra divina de redenção.
               A eterna luta entre o filho da mulher e a descendência da serpente se inicia. As duas linhagens, santa e maligna, começam a travar sua luta já a partir do capítulo 4. Abel, filho de Deus, é morto por Caim, filho do Maligno. A semente da mulher é abalada, mas o Senhor levanta Sete, um novo filho e sustenta sua descendência até Cristo. Aquele que veio esmagar de uma vez por todas a cabeça da serpente restaurando a linhagem santa do poder do pecado.

2ª – A mulher – Dor, muita dor seria a nova marca advinda com a queda. O ato sublime para o qual a mulher foi criada seria em meio a muitos dores. O filho da mulher viria, mas as dores seriam muitas. Além disso, a sua submissão que até então seria prazerosa, a partir de então passa a ser dolorosa. A mulher sente dificuldade em manter-se submissa ao seu marido, sua vontade é se rebelar como Eva, mas sua natureza não muda, ela permanece tendo seu desejo submisso ao seu esposo e isso passa a ser uma marca de dor em sua vida.

Aplicação: O movimento feminista que iniciou seus ataques com maior força a cerca de cinquenta ou sessenta anos tem suas origens justamente nesse verso. A mulher sempre vem tendo dificuldade em manter-se sob a submissão do marido. As consequências do pecado sobre sua vida tem feito com que a ordem da criação venha sendo subvertida cotidianamente. A filiação adâmica dos maridos também contribui para isso. A timidez e irresponsabilidade masculina vêm fazendo com que muitas mulheres assumam o papel de chefe da casa tomando decisões que são divinamente postas sob a responsabilidade do homem. Em outros casos, maridos zelosos e de conduta ilibada, vem tendo dificuldades em manter suas mulheres em posição submissa pela rebeldia que suas auxiliadores promovem. Homens e mulheres precisam aprender quais suas posições, quais seus papeis deixados pelo Senhor para nossa convivência. O absurdo dessas relações mal interpretadas desemboca na Casa de Deus. Em dois mil anos de história a igreja nunca havia ordenado mulheres para dirigirem as atividades eclesiásticas ou mesmo serem responsáveis pela docência (ensino) das Escrituras. Somente com o modelo feminista de pensamento isso veio acontecer, e muitos veem isso como uma benção. Entretanto, essa maldição sempre rodou pelos arredores do serviço divino. Sempre que os homens se calaram Deus levantou mulheres como a profetisa Hulda, a juíza Débora para trazer juízo contra os homens que irresponsavelmente abandonaram seus postos. Portanto, subverter a ordem da criação é seguir a natureza caída de Adão e Eva e não as ordens do Senhor.

3º O homem – No verso 17 o homem recebe sua sentença. Não porque lhe seria impróprio ouvir sua esposa em qualquer situação, pois o próprio Deus manda Abraão ouvir sua esposa no mesmo livro de Gênesis, mas porque ele a ouviu e não teve discernimento de repreende-la mas aceirou e comeu do fruto com ela, o seu trabalho que geraria bons resultados com pouco esforço agora seria em meio as dores. As ervas daninhas e todos os tipos de pestes adentraram as terras de toda a criação e Adão começa a ter que sofrer para trazer o sustento da sua família. Não haveria nada mais doloroso para um pai de família que ter no seu trabalho um local de desprazer.
Aplicação: Se o seu trabalho é difícil lembre-se de Adão. O pecado trouxe a dor não só à mulher, mas também a nós homens. O peso da responsabilidade de suster a casa em meio a um mundo que parece não querer nos dar os frutos do nosso trabalho, nada mais é que o pecado fazendo efeito em toda criação e retendo aquilo que seria facilmente adquirido.
               No verso 20 Adão após receber sua sentença não se revolta nem tenta questionar a Deus. Ele está ciente que o julgamento fora justo e que a sentença foi merecida. Entretanto, lhe restara uma esperança. Ele ouvira da boca do Senhor que um filho nasceria e que ele esmagaria a cabeça da serpente que tanto lhes fez sofrer. Assim ele chama sua esposa novamente e resolver trocar o seu nome. Seria apenas um capricho de Adão? De maneira alguma. Adão retira o nome de varoa e passa a chamar sua esposa de Eva, ou mãe de filhos. O representante federal da raça manifesta sua fé na promessa do nascimento de um filho e esse evento maravilhoso seria possível através da sua mulher. Prova da fé de Adão e também de Eva é que no capítulo seguinte quando o filho nasce a declaração da mulher é que ela adquirira um filho com auxílio do Senhor. Provavelmente demonstrando sua esperança que ele seria o Messias.
               A situação de Eva e Adão ainda era difícil. Eles continuavam nus. A tentativa de resolver esse problema sozinhos havia falhado, mas agora Deus resolve cobrir a vergonha deles (3:21). O Senhor sacrifica animais e usa a pele para fazer vestes para o homem e a mulher. O sacrifício dos animais pode ser muito bem entendido como o primeiro dentre muitos que apontava para o sacrifício perfeito do cordeiro de Deus que restauraria a condição perfeita do homem. Essa ação do Senhor nos mostra que todas as religiões do mundo tem pregado algo extremamente pernicioso. A busca pela salvação pelas obras é algo que provoca a ira de Deus. O homem morto em seus delitos e pecados só pode ter sua vergonha coberta se o próprio Deus resolver cobri-los. É uma ação solitária e monérgica de Deus onde não há cooperação do homem, o ser humano é totalmente passivo.

      3)    A Grande Redenção vem pela Maravilhosa Misericórdia de Deus (v. 22-24)

               A declaração final do Senhor é surpreendente. O homem realmente tornou-se como Deus, conhecedor do bem e do mal. Essa condição o impediria de manter relacionamento direto com o Senhor, pois o pecado não habita junto a um Deus santo. Restava uma árvore no jardim da qual o homem ávido pela vida eterna certamente se apossaria. Essa atitude lhe daria a condição de ser verdadeiramente eterno. Mas em que isso poderia ser mal? Sabemos que a posição do homem após a queda era de morte espiritual e que sua natureza era totalmente corrompida. Caso o homem nessa situação, tomasse do fruto que lhe daria a vida eterna sem que houvesse restauração da sua natureza, nós jamais teríamos esperança.
               Em um ato de extrema misericórdia, o Senhor expulsa o homem do jardim para que ele não chegasse a desgraça total e irremediável. Adão e Eva são colocados fora do jardim onde Deus havia os posto para viverem de maneira plenamente feliz, e os manda agora suportar a vida longe do paraíso em meio as dores, aguardando a chegada do filho que pisaria a cabeça da serpente. Para que eles não tentassem voltar, foi posto um anjo com espada flamejante que guardava a entrada do jardim para que o homem jamais voltasse a habitar ali. Esse princípio de separação permaneceu no tabernáculo onde o homem não poderia entrar no Santo dos Santos, apenas o sumo sacerdote uma vez por ano; no templo onde era necessário a intercessão dos sacerdotes que elevavam os sacrifícios a Deus em favor do povo, e até o dia em que o filho da mulher nasce, cresce, escolhe e treina doze discípulos, cumpre seu ministério cabalmente e elevado em uma cruz para ser morto. Ali a promessa estava sendo cumprida. A serpente esmagada e o povo de Deus voltando a seu estado inicial de vida espiritual, e assim que o Senhor deu o último suspiro o véu do templo que escondia o Santo dos Santos foi rasgado de uma ponta a outra, o acesso que estava fechado desde o Éden foi aberto novamente e o ser humano restaurado em Cristo pôde ter em se as benécies da vida eterna com Deus.
Aplicação: Em meio a toda nossa rebeldia e pecado, o Senhor gratuitamente resolve manifestar graça. O Criador que organizou todo o Universo pensando na vida da coroa de toda sua obra viu a criatura se rebelar contra ele e querer tomar seu lugar. A justiça de Deus se manifestou e puniu suas obras, mas não sem separar parte dos descendentes de Adão e Eva para uma vida transformada. A promessa do Messias fez com que gerações e mais gerações do povo escolhido de Deus vivesse na expectativa de sua chegada. No momento certo ele veio e trouxe a redenção que seu povo precisava. A justiça do grande juiz que exige certamente a morte do transgressor foi satisfeita com a morte de Cristo e, por isso, todo aquele que Nele crer já tem a vida eterna.
               Portanto, se você até hoje esteve debaixo da filiação de Adão vivendo por sua própria conta e buscando salvação em suas próprias obras que sob sua ótica eram boas, saiba que isso é impossível. Sua natureza é corrompida e não permite a execução de algo verdadeiramente bom, tudo está manchado pelo pecado. Só a esperança em Cristo, Nele sua natureza é modificada e sua situação de morte espiritual é transformada para a vida eterna. Por isso, clame pela sua imensa misericórdia e sendo você um eleito ele lhe salvará.
               Se você já é crente, valorize a obra de Cristo, não se entregue a natureza pecaminosa que existe em você e que precisa ser mortificada a cada dia. A graça de Deus não é barata, ela exigiu a morte de um Santo Filho de Deus para comprar a sua justificação, assim viva em conformidade com os limites por ele impostos e exalte o nome de Cristo em sua vida. Ele que é Criador e Redentor dos seus filhos e prometeu que um dia estaremos com ele no paraíso novamente.













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